Cidades de Amadeo | Balanço
Entre setembro de 2017 e dezembro de 2018, o ciclo internacional de mesas-redondas e conferências “Cidades de Amadeo” promoveu uma discussão multidisciplinar em torno de Amadeo de Souza-Cardoso, no contexto do centenário da morte do brilhante pintor modernista vitimado pela epidemia de pneumónica aos 30 anos.
O ciclo, que teve origem numa parceria entre o Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e o Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, permitiu criar ou reforçar laços com as comunidades e as instituições de algumas cidades relevantes para Amadeo: Porto, onde viveu um ano e expôs em 1916, no Jardim Passos Manuel; Coimbra, onde estudou no liceu e havia interesse em receber a sua exposição em 1917; Lisboa, onde estudou em 1905, antes de ir para Paris, e expôs em 1916, na Liga Naval, quando criou afinidades com o círculo artístico de Orpheu; Espinho, cidade onde o amigo médico e escritor Manuel Laranjeira estimulou o interesse de pela caricatura, onde o pintor passava o verão com a família e viria a falecer em outubro de 1918; Amarante, terra natal e fonte de inspiração para muitas das suas obras; Paris, onde se instalou entre 1906 e 1914 e iniciou uma promissora carreira nos circuitos vanguardistas parisienses e internacionais.
As temáticas das sessões não se limitaram, contudo, à relevância de uma determinada cidade para a obra ou biografia de Amadeo. No contexto de um projecto do grupo de Raízes e Horizontes do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto que abordou José de Almada Negreiros e terminava no outono de 2017, a sessão inaugural no Porto explorou mais as relações entre Amadeo e Almada a partir de conferências de Mariana Pinto dos Santos e de Marta Soares do que a exposição de Amadeo no Jardim Passos Manuel, aspecto que tinha sido exaustivamente resgatado e investigado no âmbito da exposição Amadeo de Souza-Cardoso / Porto Lisboa / 2016 – 1916com curadoria de Raquel Henriques da Silva e Marta Soares que esteve patente no Museu Nacional de Soares dos Reis, em 2016, e no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em 2017.
Se, em Coimbra, o ponto de partida foi uma entrevista de Amadeo ao Jornal de Coimbraque aborda, a dado momento, os estímulos estéticos da cidade, as restantes intervenções de Joaquim Braga, Maria de Fátima Lambert e de Osvaldo Manuel Silvestre abriram para outros tópicos, nomeadamente o sentido háptico em Amadeo ou o lugar da literatura nos discursos sobre pintura modernista. De igual forma, a sessão em Lisboa, que contou com Raquel Henriques da Silva, Pedro Lapa e moderação de João Oliveira Duarte, apenas evocou pontualmente a exposição na Liga Naval de Lisboa em 1916 para questionar o lugar da cidade na obra de Amadeo e na pintura modernista. Mesmo as sessões de Espinho e de Amarante, com maior contextualização local, sobretudo na intervenção de Hugo Barreira sobre o urbanismo de Espinho à época de Amadeo e de Laranjeira, orbitaram em torno de um género – a caricatura, nas intervenções de Fernando Rosa Dias e Ana Paula Machado em Espinho – ou abordaram um conceito teórico – o regionalismo crítico, na intervenção de Joana Cunha Leal em Amarante – pertinente para a cidade em questão.
Apesar de ainda se verificar um abismo entre a mediatização de Amadeo de Souza-Cardoso e o pensamento crítico sobre a sua obra, as sessões das “Cidades de Amadeo” lançaram algumas bases de problematização do caso de Amadeo com repercussões observáveis, por exemplo, numa visita guiada à exposição “Amadeo”, que esteve patente no Museu Municipal de Espinho.
A iniciativa beneficiou igualmente do total apoio de familiares de Amadeo de Souza-Cardoso que nos receberam na Casa de Manhufe, onde foi gravada uma sessão do programa “Serões Inquietos” da TSF a propósito de Amadeo e Amarante, bem como no atelier de Amadeo de Souza-Cardoso recentemente recuperado e estreado na mesa-redonda que contou com a participação de Joana Cunha Leal, João Oliveira Duarte e Maria Celeste Natário.
Para além de várias pistas de investigação sugeridas – especialmente ancoradas nas dicotomias rural/urbano e centro/periferia, na importância da cor, no carácter háptico, no tratamento dos objectos “vivos” em contraste com homens, paisagens e animais –, o ciclo ocasionou a revelação de duas caricaturas desconhecidas. Essa descoberta deve-se à generosa participação de um senhor, cujo nome infelizmente não sabemos indicar, entre a assistência da sessão em Espinho. Graças às suas pistas, a Dra. Ana Paula Machado, conservadora do Museu Nacional de Soares dos Reis, identificou duas caricaturas realizadas em Espinho e publicadas numa revista portuense em 1907. Este episódio é bem exemplificativo do trabalho inesgotável da investigação e da pertinência destas sessões para a descoberta de obras inéditas, especialmente no caso da caricatura, que se presta à publicação em periódicos locais.
Na última sessão, a 11 de dezembro de 2018 na Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, Amadeo foi revisitado numa dinâmica característica deste ciclo, proporcionando um diálogo entre um orador especializado na obra do artista (Helena de Freitas) e um orador desafiado a abordar um determinado aspecto de Amadeo – a relação com a máscara africana – num registo exploratório (Egídia Souto), e fez-se o balanço das “Cidades de Amadeo”. Agora é possível ouvir na íntegra a sessão em Paris na plataforma do evento na Sound Cloud: https://soundcloud.com/user-405236909/cidades-de-amadeo-villes-damadeo-paris-fin
Depois desta experiência com especial enfoque em cidades portuguesas, espera-se que, noutra fase, seja possível organizar um ciclo itinerante com um maior peso internacional e mais direcionado para a participação de Amadeo em mostras colectivas concretizadas – nos Salon d’Automnee Salon des Indépendants(em Paris), no Armory Show(em Nova Iorque, Boston e Chicago), no Erster Deutscher Herbstalon(em Berlim) – ou frustradas, como a exposição da Corporation Nouvelleem Barcelona.
Neste momento, toda a informação detalhada sobre as “Cidades de Amadeo” encontra-se disponível no site (https://cidadesdeamadeo.weebly.com) e estão a ser editados ensaios da autoria dos oradores convidados ao longo do ciclo.
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Agradecimentos a todos os oradores e moderadores:
Ana Mira, João Oliveira Duarte (organização), Renato Epifânio, Rui Lopo, Joana Brites, Joaquim Braga, Maria de Fátima Lambert, Osvaldo Manuel Silvestre, Raquel Henriques da Silva, Pedro Lapa, Ana Paula Machado, Fernando Rosa Dias, Hugo Barreira, Joana Cunha Leal (organização), Maria Celeste Natário (organização), Helena de Freitas, Egídia Souto.
Agradecimentos institucionais:
Maria João Vasconcelos (Museu Nacional de Soares dos Reis), CEIS20, Ana Vasconcelos (Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna), Armando Bouçon (Museu Municipal de Espinho/Câmara Municipal de Espinho), Pedro Barros (Centro de Estudos Amarantinos), Bruno Carvalho (Câmara Municipal de Amarante), António Cardoso (Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso), Miguel Magalhães (Fundação Calouste Gulbenkian – delegação em França).
Agradecimentos à família de Amadeo de Souza-Cardoso:
José Ernesto Sousa Cardoso, João Paulo Vilas-Boas, Maria José Sousa Cardoso, Guilhermina Sousa Cardoso, António Sousa Cardoso, Maria Cândida Sousa Cardoso, Isabel Rebello de Andrade, João Rebello de Andrade
Um agradecimento muito especial ao senhor que nos indicou a caricatura de Amadeo publicada em 1907 na Semana Alegre, na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva, em Espinho, a 29 de setembro de 2018.
O ciclo, que teve origem numa parceria entre o Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e o Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, permitiu criar ou reforçar laços com as comunidades e as instituições de algumas cidades relevantes para Amadeo: Porto, onde viveu um ano e expôs em 1916, no Jardim Passos Manuel; Coimbra, onde estudou no liceu e havia interesse em receber a sua exposição em 1917; Lisboa, onde estudou em 1905, antes de ir para Paris, e expôs em 1916, na Liga Naval, quando criou afinidades com o círculo artístico de Orpheu; Espinho, cidade onde o amigo médico e escritor Manuel Laranjeira estimulou o interesse de pela caricatura, onde o pintor passava o verão com a família e viria a falecer em outubro de 1918; Amarante, terra natal e fonte de inspiração para muitas das suas obras; Paris, onde se instalou entre 1906 e 1914 e iniciou uma promissora carreira nos circuitos vanguardistas parisienses e internacionais.
As temáticas das sessões não se limitaram, contudo, à relevância de uma determinada cidade para a obra ou biografia de Amadeo. No contexto de um projecto do grupo de Raízes e Horizontes do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto que abordou José de Almada Negreiros e terminava no outono de 2017, a sessão inaugural no Porto explorou mais as relações entre Amadeo e Almada a partir de conferências de Mariana Pinto dos Santos e de Marta Soares do que a exposição de Amadeo no Jardim Passos Manuel, aspecto que tinha sido exaustivamente resgatado e investigado no âmbito da exposição Amadeo de Souza-Cardoso / Porto Lisboa / 2016 – 1916com curadoria de Raquel Henriques da Silva e Marta Soares que esteve patente no Museu Nacional de Soares dos Reis, em 2016, e no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em 2017.
Se, em Coimbra, o ponto de partida foi uma entrevista de Amadeo ao Jornal de Coimbraque aborda, a dado momento, os estímulos estéticos da cidade, as restantes intervenções de Joaquim Braga, Maria de Fátima Lambert e de Osvaldo Manuel Silvestre abriram para outros tópicos, nomeadamente o sentido háptico em Amadeo ou o lugar da literatura nos discursos sobre pintura modernista. De igual forma, a sessão em Lisboa, que contou com Raquel Henriques da Silva, Pedro Lapa e moderação de João Oliveira Duarte, apenas evocou pontualmente a exposição na Liga Naval de Lisboa em 1916 para questionar o lugar da cidade na obra de Amadeo e na pintura modernista. Mesmo as sessões de Espinho e de Amarante, com maior contextualização local, sobretudo na intervenção de Hugo Barreira sobre o urbanismo de Espinho à época de Amadeo e de Laranjeira, orbitaram em torno de um género – a caricatura, nas intervenções de Fernando Rosa Dias e Ana Paula Machado em Espinho – ou abordaram um conceito teórico – o regionalismo crítico, na intervenção de Joana Cunha Leal em Amarante – pertinente para a cidade em questão.
Apesar de ainda se verificar um abismo entre a mediatização de Amadeo de Souza-Cardoso e o pensamento crítico sobre a sua obra, as sessões das “Cidades de Amadeo” lançaram algumas bases de problematização do caso de Amadeo com repercussões observáveis, por exemplo, numa visita guiada à exposição “Amadeo”, que esteve patente no Museu Municipal de Espinho.
A iniciativa beneficiou igualmente do total apoio de familiares de Amadeo de Souza-Cardoso que nos receberam na Casa de Manhufe, onde foi gravada uma sessão do programa “Serões Inquietos” da TSF a propósito de Amadeo e Amarante, bem como no atelier de Amadeo de Souza-Cardoso recentemente recuperado e estreado na mesa-redonda que contou com a participação de Joana Cunha Leal, João Oliveira Duarte e Maria Celeste Natário.
Para além de várias pistas de investigação sugeridas – especialmente ancoradas nas dicotomias rural/urbano e centro/periferia, na importância da cor, no carácter háptico, no tratamento dos objectos “vivos” em contraste com homens, paisagens e animais –, o ciclo ocasionou a revelação de duas caricaturas desconhecidas. Essa descoberta deve-se à generosa participação de um senhor, cujo nome infelizmente não sabemos indicar, entre a assistência da sessão em Espinho. Graças às suas pistas, a Dra. Ana Paula Machado, conservadora do Museu Nacional de Soares dos Reis, identificou duas caricaturas realizadas em Espinho e publicadas numa revista portuense em 1907. Este episódio é bem exemplificativo do trabalho inesgotável da investigação e da pertinência destas sessões para a descoberta de obras inéditas, especialmente no caso da caricatura, que se presta à publicação em periódicos locais.
Na última sessão, a 11 de dezembro de 2018 na Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, Amadeo foi revisitado numa dinâmica característica deste ciclo, proporcionando um diálogo entre um orador especializado na obra do artista (Helena de Freitas) e um orador desafiado a abordar um determinado aspecto de Amadeo – a relação com a máscara africana – num registo exploratório (Egídia Souto), e fez-se o balanço das “Cidades de Amadeo”. Agora é possível ouvir na íntegra a sessão em Paris na plataforma do evento na Sound Cloud: https://soundcloud.com/user-405236909/cidades-de-amadeo-villes-damadeo-paris-fin
Depois desta experiência com especial enfoque em cidades portuguesas, espera-se que, noutra fase, seja possível organizar um ciclo itinerante com um maior peso internacional e mais direcionado para a participação de Amadeo em mostras colectivas concretizadas – nos Salon d’Automnee Salon des Indépendants(em Paris), no Armory Show(em Nova Iorque, Boston e Chicago), no Erster Deutscher Herbstalon(em Berlim) – ou frustradas, como a exposição da Corporation Nouvelleem Barcelona.
Neste momento, toda a informação detalhada sobre as “Cidades de Amadeo” encontra-se disponível no site (https://cidadesdeamadeo.weebly.com) e estão a ser editados ensaios da autoria dos oradores convidados ao longo do ciclo.
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Agradecimentos a todos os oradores e moderadores:
Ana Mira, João Oliveira Duarte (organização), Renato Epifânio, Rui Lopo, Joana Brites, Joaquim Braga, Maria de Fátima Lambert, Osvaldo Manuel Silvestre, Raquel Henriques da Silva, Pedro Lapa, Ana Paula Machado, Fernando Rosa Dias, Hugo Barreira, Joana Cunha Leal (organização), Maria Celeste Natário (organização), Helena de Freitas, Egídia Souto.
Agradecimentos institucionais:
Maria João Vasconcelos (Museu Nacional de Soares dos Reis), CEIS20, Ana Vasconcelos (Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna), Armando Bouçon (Museu Municipal de Espinho/Câmara Municipal de Espinho), Pedro Barros (Centro de Estudos Amarantinos), Bruno Carvalho (Câmara Municipal de Amarante), António Cardoso (Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso), Miguel Magalhães (Fundação Calouste Gulbenkian – delegação em França).
Agradecimentos à família de Amadeo de Souza-Cardoso:
José Ernesto Sousa Cardoso, João Paulo Vilas-Boas, Maria José Sousa Cardoso, Guilhermina Sousa Cardoso, António Sousa Cardoso, Maria Cândida Sousa Cardoso, Isabel Rebello de Andrade, João Rebello de Andrade
Um agradecimento muito especial ao senhor que nos indicou a caricatura de Amadeo publicada em 1907 na Semana Alegre, na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva, em Espinho, a 29 de setembro de 2018.